Viver na ignorância... a enfrentar a sabedoria indesejada

O meu corpo termia desesperadamente, tentando expressar-se, enquanto impedia as lágrimas geladas de escorrer pelo meu rosto. Sentia-me petrificada, o meu coração gelara com o medo que sentira naquele momento. O que poderia fazer, para não ouvir o que não queria?
Nada! A decisão não dependia de mim, alguém já tinha decidido, que tinha de enfrentar aquela situação. Contudo, não queria que o dia chegasse, pois mesmo sabendo que poderia descobrir o motivo para os meus problemas, estava insegura.
Alem, de ter estado estes anos todos a viver na ignorância, em relação a este maldito assunto e querendo desvendar a verdade, não estava preparada. Não queria que esse malefício fosse maior do que já era, mas, mais que tudo, não tinha força para enfrentar aquela tempestade novamente. Sentia-me fraca, por ter chegado ate ali, todavia, teria de continuar a batalhar, por uma solução.
O sentimento era horrível, parecia que todos aqueles anos foram em vão e que o esforço não serviria para nada, pois teria de voltar a passar por tudo outra vez. Simplesmente, a angústia sufocava-me, não conseguindo livrar-me dela.

Sombras de ilusão...

A noite era triste, o vento soprava de forma desesperada e eu estava ali, acordada. Fechava os olhos, contudo, não conseguindo dormir, pois a fúria dos ventos não soprara só na rua, também, enlouquecia o meu coração e o meu pensamento.
Pensara no dia que haveria tido e em tudo o que poderia estar a passar na minha vida. Reflectira muito, nos bons momentos que vivera, todavia, descobri que não eram reais, eram só ilusões. Repugnantes ilusões, que serviriam para me confundir e deixar as pessoas aproveitarem-se da minha fragilidade.
A realidade onde vivia foi engolida por um mar de ilusões, criadas pelas sobras, que iludiram o meu coração despedaçando-o no final. As pessoas que julgava gostar de mim, só queriam usar-me. Todos aqueles momentos eram completamente falsos, os sentimentos demonstrados e a felicidade encarnada nesses momentos de pura hipocrisia.
Repudiei-me naquele momento, por ser tão ingénua e deixar que as pessoas me enganassem, com tanta facilidade. Só que, apercebi-me não estar errada, porque, o único erro que cometera era amar.
Amei, quem não devia, não merecia e não queria me amar. Nesse momento, deu-me um aperto no coração e uma vontade de me derreter em lágrimas. Mas, não o poderia fazer, pois as minhas lágrimas só são derramadas por quem realmente merece e alguém que brincou com os meus sentimentos, indiscutivelmente, não é a pessoa certa.
Um sentimento duro e amargo assolou o meu pensamento, estava com vontade de partir tudo. Desaparecer, fugir para um lugar bem isolado, onde ninguém me pudesse encontrar, contudo, essa não era a solução indicada, teria de enfrentar o problema.
Todavia, a minha revolta crescia, a raiva que sentia do mundo e das pessoas que me rodeavam era imensa. Queria ser simpática, com as pessoas que verdadeiramente querem o meu bem. Infelizmente, não conseguia. Tentava enfrentar o mundo com um sorriso, para a ferida sarar, mas, ele desaparecia do meu rosto ao aparecer uma situação adversa. Mesmo sem querer, um problema minúsculo transformara-se num pesadelo, por ter todas as emoções à flor da pele e tudo me afectar.
Simplesmente, desejava ser feliz. Retirar de dentro de mim aquelas energias negativas e olhar o futuro de modo positivo e resplandecente. Apetecia-me dançar e enfrentar as pessoas, viver a vida ao máximo e gastar aquelas vibrações extras de diversão. A alegria era a minha forma de esquecer os problemas, a parte má, é que não durava muito, voltando a entristecer com aquelas malditas sombras.

Ser Mulher...

Os dias vão passando e eu vou crescendo. Cada vez mais, sinto-me uma mulher, capaz de viver o significado mais profundo da palavra. Então, porque é que tenho medo? Não tenho a força necessária para viver como uma mulher.
Estou farta! Farta das privações de criança, de não poder tomar as minhas próprias decisões, de viver dependente do que os outros querem para mim. Embora, que só queiram o meu melhor, considero que já o possa escolher por mim própria. Afinal não quero ser nenhuma irresponsável. Não preciso daquelas parvoíces juvenis para ser feliz, só quero divertir-me um pouco mas sem excessos, pois já foi tempo em que fazia os maiores disparates, sem pensar nas consequências.
Claro que sou louca, mas, não inconsequente! Sei o que faço, contudo, tenho de confessar, que às vezes, aparento uma rapariga estranha, que só se mete onde não deve e sem pensar no futuro, vive num êxtase diário. Felizmente, estou farta desta estupidez de ser adolescente, necessito de algo mais. Desejo sentir o sabor de uma vida nova, sem barreiras, onde posso ser livre. Todavia, uma liberdade responsável, onde tudo o que planto no presente, acabarei por colher no futuro. No fundo, existe dentro de mim uma grande vontade de mudar, de dizer «sim» a coisas novas. Ser feliz, sendo mulher.
Na verdade, à uns anos, repartia da mesma opinião da maioria dos jovens, pois pensava que ser adulto era ser maior de idade e o que nos tornava bons homens ou mulheres era simplesmente perder a virgindade. Hoje arrependo-me disso, pois dou por mim, a olhar o meu interior e a observar o que me rodeia. Com essa analise, a conclusão chegada foi que, tenho uma mentalidade mais adulta que muitos, sendo maiores de idade, por não passar de uma lei para estereotipar o ser humano, não fazendo qualquer sentido, ou influenciando na personalidade de cada espírito. Na questão da virgindade, sou menos mulher, pois o sexo não é o mais importante. O que mostra, se somos verdadeiramente mulheres ou homens, é se sabemos amar a quem nos ama.
Assim, espero que me torne mulher rapidamente, para colmatar este vazio que sinto, mas para isso, vou ter de aprender a amar e deixar que me amem. Vou esperar, pois estou disposta a passar por tudo o que o destino me reserva, para chegar ao fim e pensar que valeu a pena amar e com isto, ser mulher.
Simplesmente… amarei quando chegar o momento, pois será o certo para me tornar mulher.